sexta-feira, 15 de abril de 2011

O jeans nosso de cada dia

publicado por: Stephanie Noelle



Século XIX e a corrida do ouro, no Oeste dos Estados Unidos está a todo vapor. Na cidade de São Francisco milhares de pessoas estão em busca do minério, que existe em abundância. Falta todo o resto, inclusive roupas adequadas para os mineiros, já que tudo o que eles têm não resiste ao trabalho pesado. No meio disso tudo, Levi Strauss aparece com um carregamento de lona, para cobrir carroças e barracas, e um mineiro desses com dinheiro no bolso lança “Não é disso que preciso. Quero calças para o trabalho. É impossível encontrar uma que dure”.  O jovem Strauss leva o mineiro a um alfaiate, que sai de lá com as melhores calças do Oeste, prontas para muitos dias de trabalho, feitas da tal lona. Nascia aí o primeiro par de jeans da história.
Fast forward para James Dean belo e formoso em Juventude Transviada, filme em que aparece usando o combo camiseta branca e jeans. A peça virou desejo instantâneo, além do maior símbolo de contestação da época. O jeans era tão símbolo de jovens rebeldes, que muitas escolas proibiram o seu uso! Como tudo que é proibido é mais legal, todos os jovens queriam um jeans para chamar de seu. Em uma época cheia de regras e códigos de vestir tão duros, o jeans era uma resposta dos jovens, que queriam praticar amor livre, queriam ser contra a Guerra do Vietnã, queriam ouvir rock e escolher seu futuro.

E por que o jeans carregava toda essa simbologia? A peça vinha dos trabalhadores operários, base da pirâmide do status social. Pela primeira vez na moda, a classe média estava copiando as roupas dos proletários, e não das classes abastadas. Uma inversão de valores que significava muito para a época. Era o símbolo perfeito do “ir contra a corrente”.

Hoje, o jeans é acessível a todos, e passou por cima de classe, gênero, idade, ideologia, linhas geográficas e qualquer outra coisa que você pensar. Diferente de qualquer peça de roupa que surgiu antes dele, um par de jeans é o único com a capacidade de camuflar qualquer distinção entre as pessoas. Mesmo com as etiquetas, um jeans é um jeans e sempre será – e na vida real, pouca diferença faz se seu jeans é “de marca” ou não.

E é legal a gente pensar em uma peça que coloca todo mundo em pé de igualdade, mesmo que antes fosse visto como rebeldia. Hoje o jeans no nosso guarda-roupa é quase um símbolo de conformismo, uma vontade de se misturar no meio de todo mundo quase sem ser notado. Tem dia que o que a gente mais quer é isso mesmo, mas será que a gente quer mesmo não exibir detalhes da nossa personalidade na roupa de todo dia? Se o impulso inicial de toda manhã é pegar o primeiro par de jeans e completar com uma camiseta ou camisa, a gente pode pensar em como deixar tudo com nossa cara e sair da zona de conforto. Porque sério, quando jeans+camiseta é nossa roupa de todo dia, ‘quem a gente é’ também tem que estar presente ali, em cada diazinho.

É mega comum, quando uma fórmula funciona, a gente dar replay nela o tempo todo. Quem nunca gostou de uma camiseta e comprou em cinco cores o mesmo modelo? Isso pode dar segurança, mas só fortalece a cara igual de todo dia. E se o jeans deu liberdade para homens e mulheres se vestirem do jeito que eles quisessem, então por que a gente vai se usá-lo para se vestir igual a todo mundo?

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